Pedro Porta acabara de terminar o namoro de um ano e um mês com Gabriela, sua professora de inglês. Dois dias depois, acordou ao lado de uma menina que havia conhecido no Sul e cujo sobrenome era Fim. Coincidências à parte, meio arrependido, o rapaz olhou a janela, ouviu o barulho de carros e logo em seguida concluiu: "Tenho de sair logo". Ele fitou a moça, que ainda dormia, vestiu-se com sua velha calça jeans, sua roupa de couro e voltou para casa. Estava próximo à Farani, onde pela primeira vez, desejou nunca ter pisado naquele local.
Porta não era mais um adolescente. Já tinha seus 26 anos, mas conservava a boa aparência e estava sempre bem arrumado. Dizia que gostava de ir no evento e beber até "decretar que estava bêbado". Naquele dia, no entanto, a vida virava de cabeça para baixo.
No mesmo instante, seu irmão, Edmundo Pavão, rapaz franzinza e barbudo, ensaiava com sua banda, "Disco 5", no Grajaú. Ele estava meio chateado porque havia brigado com o Nicole, seu grande amigo de faculdade. Pavão era mais moço, mais reservado e mais contido, embora deixasse transpirar suas emoções. Uma contradição que sustentava desde os 18 anos, quando conheceu Maria, sua primeira namorada.
À tardinha, diante do silêncio da Rua General Glicério, em Laranjeiras, Porta percebeu a imensidão de seu vazio. Encontrou o irmão e poucas pessoas sentadas no Vilarino e balbuciou:
- Eu e eles. E a nossa dor.
continua ...
domingo, 4 de janeiro de 2009
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