quinta-feira, 30 de julho de 2009

Um prato de comida por um sorriso

Na semana passada, estava num coletivo de linha 433 (Leblon - Vila Isabel), quando um fato, no mínimo, constrangedor, chamou atenção dos passageiros. Logo após passarmos dos Arcos da Lapa, um homem alto, gordo, negro e com barba por fazer não admitia receber o troco em moeda (R$7,50).

- Você tem nota aí que eu vi - exclamou o sujeito.

- Minha obrigação é lhe dar o troco. Se não quiser moeda, fala com o Banco Central e manda parar de emití-las - retrucou o cobrador.

- Estou no meu direito. Se você não me der os sete e cinquenta em notas, vou chamar a viatura e parar este ônibus - vociferou o passageiro que, curiosamente, carregava uma criança de colo.

- Pode chamar quantas viaturas você quiser - respondeu o cobrador no mesmo tom.

- Você está com sorte, porque estou num bom dia.

- Por que? Você vai encostar em mim? Se vier para cima de mim, esqueço que estou trabalhando e você está com uma criança - o cobrador tentou intimidar.

Como o dinheiro deixa as pessoas cautelosas! Num mundo ideal, não teríamos as verdinhas. O passageiro passaria pela roleta e pagaria com um aperto de mão. Nos restaurantes, nos bares, nas lanchonetes, pedir-se-ia comida em troca de um sorriso. Para entrar em teatros, cinemas e discotecas só com um abraço!

Ah, é sonhar demais, alertaria um leitor.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Cartolicismo


Ah, Cartola

Soube antes de todos que AS ROSAS NÃO FALAM
Num PRANTO DE POETA, revelou que O MUNDO É UM MOINHO
E fez de sua maestria uma SALA DE RECEPÇÃO,
Mostrando O QUE É FEITO DE VOCÊ

Pois saiba, querido mestre
Dancei com a DIVINA DAMA no SILÊNCIO DE UM CIPESTRE
Fui encharcado de paixão por este AMOR PROIBIDO
E quando disse MINHA, escapou-me a SENHORA TENTAÇÃO

SIM, DESFIGURADO e com PEITO VAZIO,
Confesso que PRECISO ME ENCONTRAR
Pois se eu tivesse AUTONOMIA, não gritaria
Tampouco diria: SEI CHORAR

Tanto na CIÊNCIA E NA ARTE
Na ALVORADA que nasce durante o INVERNO DO MEU TEMPO
As CORDAS de AÇO dão o tom da COR DA ESPERANÇA
Pois ALEGRIA somente no VERDE QUE TE QUERO ROSA

terça-feira, 28 de julho de 2009

A arte está acima do jornalismo

O moço descobriu que não tinha a menor intrepidez para correr atrás de pautas ou a cabeça no lugar para exercer a função de um editor. Sua mente era repleta de dúvidas sobre as quais pareciam não haver respostas e não conseguira organizar o caos dentro de si.

Questionava sempre: Até que ponto um homem pode trabalhar somente por dinheiro? Por que prostituir sua inteligência a serviço de tão pouco. Se isolou numa solidão durante dois anos, perdendo tudo e se desligando de todos os amigos em detrimento de uma pequena porção de "Carreiras".

Desde seus 18 anos, quando começou a incursionar sozinho mundo à fora, dormir em rodoviárias e ir sempre atrás das ilusões perdidas, achou que poderia se dar bem e conhecer pessoas de diferentes crenças, nacionalidades e raças. Antes disso, já se familiarizara com o ambiente tenso e complexo, mas no fundo algo o lembrara que jornal só serve para enrolar peixe.

Pensara que encontraria um ambiente cercado de intelectuais que ouviam de Chico Buarque a Radiohead, discutiam literatura, filosofia e à noite se encontravam num botequim para discutir os percalços da vida. Mas o que encontrou foi uma realidade totalmente diferente. Pessoas caretas, vivendo num universo muito limitado.

Viu também muitas injustiças quando chegou lá. As pessoas que idealizara eram minoria. E presenciou a despedida de uma por uma. Teve de aguentar o homem da voz fina. Contudo, ressaltava sua crença na arte a todo momento.

domingo, 26 de julho de 2009

Teoria das pseudo-londrinas


Por Hanrrikson de Andrade
http://www.cineaforismo.com

Assim como a caipirinha, o samba, a mulata, o pandeiro, há uma característica em especial que pode (e deve) ser evidenciada em qualquer reflexão sobre o conceito de "brasilidade": o calor. O Brasil é internacionalmente reconhecido por ser de clima tropical, com verões avassaladores que arrebatam milhares de nativos e milhões de turistas para as nossas praias exuberantes e demais pontos turísticos. Neste processo de construção de uma "identidade" - dotada de signos culturais muito bem estabelecidos -, faz-se necessário lembrar que o Rio de Janeiro tem um papel de destaque. Não mais ou menos em comparação a outras cidades (é infrutífero cair nesse tipo de discussão), mas diferente, "peculiar", principalmente se ampliarmos as noções de identidade cultural e de atribuição de valor a estereótipos do ponto de vista geográfico.

Em resumo, o calor é uma "marca registrada" do Rio de Janeiro. Na contramão desse fato, porém, qualquer indivíduo com um poucos mais de perspicácia é capaz de observar a popularização do que chamo de "estilo pseudo-londrino". Definindo com proficiência em palavras rápidas, são aquelas meninas que passam todo um semestre à espera do raquítico inverno carioca a fim de desempilhar de seus armários as botas, os cachecóis, os sobretudos etc. Geralmente, gostam de rock e frequentam a Casa da Matriz. Este fenômeno, porém, vem se espalhando vertiginosamente para outras tribos urbanas e até mesmo se adequando à "moda da labuta". Qualquer escritório no Centro, por exemplo, está hoje lotado de pseudo-londrinas. Mulheres que se sentem mais auto-confiantes em virtude de uma produção estética diferenciada, tipicamente europeia.

A nível de hipótese, eu identifico uma escala gradativa nessa pós-contemporânea pagação de pau ao padrão estético supracitado: as primeiras mulheres a "buscar" na Europa as botas, cachecóis, sobretudos etc - aqui nesta formulação teórica utilizamos Londres como ilustração - foram as sulistas (o que é de certa forma aceitável, uma vez que no Sul efetivamente há clima propício para a utilização dos referidos acessórios). De lá para São Paulo foi um pulo, dada a "admiração" que os paulistanos de maneira geral têm sobre o estilo de vida gaúcho e de seus hibridismos culturais. O processo de contágio ocorreu paralelamente quanto ao Rio de Janeiro, filtrado basicamente por determinados espaços urbanos, com destaque para a Zona Sul.

Mas até mesmo em São Paulo, vale ressaltar, há dias em que a sensação térmica pode eventualmente justificar as luxúrias estéticas das pseudo-londrinas. No Rio de Janeiro, não. É realmente difícil digerir o fato de que há mulheres que acessam fielmente o Climatempo (www.climatempo.com.br) quatro ou cinco vezes por semana no sentido de aproveitar o mais rápido possível uma aleatória oportunidade de fazer uso de suas "armaduras". São as mesmas que, numa quase irascível noite de 24 graus, já batem continência em frente ao espelho e exibem sem pudor aquele lindo cachecol comprado na feirinha de Teresópolis. Tal fenômeno aqui relatado denota, na verdade, uma afronta às raízes culturais desta cidade que, mesmo no inverno, não chega aos 10 graus.

Dito isso, por favor, queimem no inferno.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Incursões solitárias pelo Rio de Janeiro

20h15 de domingo. Me sentia estranho e com uma pequena ressaca que me deixou a tarde inteira em casa ouvindo música. Sai. Sozinho. Bem vestido. De preto. De luto. Sem cachecol. No frio.

Comecei minha peregrinação solitária por Copacabana. Meus relacionamentos não duram mais do que 20 minutos. Esta é a triste realidade. Ao meu lado, apenas minha sombra, minha alma, meu escudo. Um samba de Noel Rosa na Rua Almirante Gonçalves me fez parar por alguns instantes. Muitos turistas apreciavam as delicadas palavras do poeta da Vila. (Sem entender muita coisa).

Ganhei Avenida Atlântica. Uma mini-festa junina num daqueles quiosques burgueses. Um mendigo com sua capa preta. Uma senhora vendia balas na porta do Manuel Joaquim.

Tomei um ônibus (511 - Urca - Leblon) e parei no Baixo Gávea. Me rendi a uma garrafa de Original (R$7,00). Parecia um desfile de moda. Pessoas elegantes, bonitas. Algumas moças com cachecol - devem ter esperado o ano inteiro para tirar do armário. Muita gente vinha do Shopping da Gávea, onde a última sessão do teatro terminara.

0h30. Toca o celular. Já esperava a solidão e o vazio. Me fez lembrar das andanças em Londres, ouvindo Morrissey e Suede no disc-man. De Russel Square até o Big Ben, passando pela intensa Oxford Street.

- Não sei se vou ai no Baixo hoje. Estou meio cansado.

Deixei o BG Bar, tomei um taxi e fiquei na porta da Melt. Uma menina saia carregada. Pior do que ela só um rapaz que vomitou no taxi e provocou a ira do chofer

- Esse pessoal não sabe beber. Na minha época, quando eu via que a vaca estava indo para o brejo, parava.

1:16. Empório às moscas. Dois gringos suecos puxavam papo com uma brasileira. Não tive saco para ficar ouvindo. Fui procurar outro lugar.

2:11. Adentrei numa espécie de Cafe Dance Club na Teixeira de Melo (R$ 25). Poucas pessoas. Pista pequena. Alguns hits dos anos 80/90. Lembrei da Foxfo, mas não rola de voltar lá. Morri em casa. Com cerveja na cabeça.