domingo, 26 de julho de 2009
Teoria das pseudo-londrinas
Por Hanrrikson de Andrade
http://www.cineaforismo.com
Assim como a caipirinha, o samba, a mulata, o pandeiro, há uma característica em especial que pode (e deve) ser evidenciada em qualquer reflexão sobre o conceito de "brasilidade": o calor. O Brasil é internacionalmente reconhecido por ser de clima tropical, com verões avassaladores que arrebatam milhares de nativos e milhões de turistas para as nossas praias exuberantes e demais pontos turísticos. Neste processo de construção de uma "identidade" - dotada de signos culturais muito bem estabelecidos -, faz-se necessário lembrar que o Rio de Janeiro tem um papel de destaque. Não mais ou menos em comparação a outras cidades (é infrutífero cair nesse tipo de discussão), mas diferente, "peculiar", principalmente se ampliarmos as noções de identidade cultural e de atribuição de valor a estereótipos do ponto de vista geográfico.
Em resumo, o calor é uma "marca registrada" do Rio de Janeiro. Na contramão desse fato, porém, qualquer indivíduo com um poucos mais de perspicácia é capaz de observar a popularização do que chamo de "estilo pseudo-londrino". Definindo com proficiência em palavras rápidas, são aquelas meninas que passam todo um semestre à espera do raquítico inverno carioca a fim de desempilhar de seus armários as botas, os cachecóis, os sobretudos etc. Geralmente, gostam de rock e frequentam a Casa da Matriz. Este fenômeno, porém, vem se espalhando vertiginosamente para outras tribos urbanas e até mesmo se adequando à "moda da labuta". Qualquer escritório no Centro, por exemplo, está hoje lotado de pseudo-londrinas. Mulheres que se sentem mais auto-confiantes em virtude de uma produção estética diferenciada, tipicamente europeia.
A nível de hipótese, eu identifico uma escala gradativa nessa pós-contemporânea pagação de pau ao padrão estético supracitado: as primeiras mulheres a "buscar" na Europa as botas, cachecóis, sobretudos etc - aqui nesta formulação teórica utilizamos Londres como ilustração - foram as sulistas (o que é de certa forma aceitável, uma vez que no Sul efetivamente há clima propício para a utilização dos referidos acessórios). De lá para São Paulo foi um pulo, dada a "admiração" que os paulistanos de maneira geral têm sobre o estilo de vida gaúcho e de seus hibridismos culturais. O processo de contágio ocorreu paralelamente quanto ao Rio de Janeiro, filtrado basicamente por determinados espaços urbanos, com destaque para a Zona Sul.
Mas até mesmo em São Paulo, vale ressaltar, há dias em que a sensação térmica pode eventualmente justificar as luxúrias estéticas das pseudo-londrinas. No Rio de Janeiro, não. É realmente difícil digerir o fato de que há mulheres que acessam fielmente o Climatempo (www.climatempo.com.br) quatro ou cinco vezes por semana no sentido de aproveitar o mais rápido possível uma aleatória oportunidade de fazer uso de suas "armaduras". São as mesmas que, numa quase irascível noite de 24 graus, já batem continência em frente ao espelho e exibem sem pudor aquele lindo cachecol comprado na feirinha de Teresópolis. Tal fenômeno aqui relatado denota, na verdade, uma afronta às raízes culturais desta cidade que, mesmo no inverno, não chega aos 10 graus.
Dito isso, por favor, queimem no inferno.
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